João
Os ânimos acalmaram. Quando tivemos todos juntos, decidi voltar a falar sobre as desgraças desse dia.
– Pronto, já sabemos quem é a ex-namorada do Pedro. Vamos conversar com a Ana Carretas… ou melhor, eu vou falar com a Ana Carretas. O Miguel Rodrigues morreu de overdose. A Bruna foi raptada e a Marta morreu.
– A culpa foi toda dele! O Henrique não devia ter feito o que fez! Foi muito arriscado. – A Diana gritou.
– Ele não fez por mal. – Defendeu a Andreia – Se alguém desvende o segredo que trabalha com o 666, essa pessoa está morta.
– Obrigado, Andreia. Talvez por essa razão a Joana fugiu assim que viu a irmã morta. – Disse o Henrique, de cabeça baixa.
– Foste um irresponsável, Henrique! Não devias ter arriscado tanto. – A Diana estava zangada e eu compreendia-a. O Henrique era uma pessoa irritante. Às vezes.
– O que é que vamos fazer, João? – Perguntou-me a Ana.
– Ainda têm o problema da Bruna. O 666 quer saber onde está a Ana. – Alertou a Andreia.
A Diana sentou-se.
– Isso é muito para nós. Tu tens que dizer a verdade, senão és morta, Andreia.
– Vocês disseram que me iam proteger. – Disse a Andreia, zangada.
– E vamos, Andreia, e vamos. – Garantiu a Ana – Acho que o melhor a fazer é mesmo contar a verdade ao 666.
A Diana olhou para a Ana, séria.
– Vais contar onde a minha irmã está?
– É a única hipótese para conseguir salvar a Andreia.
– E a minha irmã? Quem a salva? – Disse a Diana, secamente.
Ninguém a respondeu. O Henrique saiu acompanhado pela Ana e pela Andreia. A Diana ia sair também, mas eu chamei-a.
– Se vais falar sobre a minha irmã, eu não quero saber. – Disse ela.
– Não. É sobre o Henrique.
– Então?
– Eu sei que o Henrique às vezes tem atitudes estranhas para um polícia e dá-me vontade de ter atitudes iguais às tuas, mas, desta vez, acho que ele fez bem.
– Como assim?
– A Marta morreu mas a reação da Joana… a Joana ficou fragilizada pela morte da irmã. Ela não sabe o que fazer. E se o Henrique tiver provas, tiver gravado a conversa, a Joana é presa e uma das pessoas do 666 desaparece.
– Ela pode ser presa?
Afirmei.
– Ela é maior de idade.
Ana Rodrigues
O Henrique foi embora dizendo que tinha provas. Tinha gravado tudo no seu telemóvel. Foi uma atitude arriscada, mas esperta.
– Andreia, eu preciso de saber uma coisa. A Ana esconde algo da irmã, não é?
A Andreia respirou fundo. A atitude dela explicou tudo.
– A Ana… tu sabes que ela é católica. A mais católica da família delas.
– Sim, e?
– E… ela engravidou.
Fiquei chocada.
– Tão católica e engravidou?
– Foi de um namorado dela. Não foi numa noite. Mas ela teve medo de contar à Diana.
– Porquê?
– Em parte graças à religião e depois graças ao nome do pai da criança.
– Quem era?
– Era um amigo do César. Ele consumia droga. Já faleceu.
Respirei fundo. Nunca pensei que a Ana fizesse isso. Imaginei qual seria a reação da Diana. Ficaria chocada possivelmente.
– Ela abortou sem que a Diana soubesse.
– Abortou?
– Aborto espontâneo.
– Como soubeste?
– Pela Bruna. O César tinha-lhe contado.
Agora tudo fazia sentido.
Fim do Capítulo 59.